A caçada de Elcon ao Espectro.

Imagem retirada da internet - Autoria desconhecida.


Em uma noite fria, de ventos fortes e chuva tão grossa que seus pingos pareciam pedras, em uma vila urbana e bela, de ruas de pedras bem alinhadas, e prédios e casebres bem feitos, com telhados e telhas vermelhas, uma mulher andava pelas ruas, sozinha, voltando para casa. Em meio ao barulho da água, a infeliz ouvia barulho de passos, olhou para trás e nada viu, e apertou os passos, começando a andar mais rápido.

Trovões cortavam o ar, as ruas estavam escuras e escorregadias, e os passos atrás da mulher, invisíveis e sorrateiros, pareciam mais próximos e assustadores, o que a fez cair na subida de uma ladeira. E quando ela olhou para trás, viu uma sombra negra. Ela se levantou e saiu correndo, até se deparar de frente com uma sombra negra, que caiu do telhado de um sobrado, batendo no solo sem fazer barulho.

A mulher, assustada com a figura sombria a sua frente, soltou um grito assustador de pânico, e viu a lâmina de um bumerangue saindo da sombra e voando em sua direção, passando ao lado direito de sua cabeça e atingindo algo atrás, que urrou de dor e recuou. Assim, da figura sombria surgiu um rosto élfico, que virou para a mulher e disse:

- Fuja daqui, vá para casa e tranque a porta!

E, dizendo isso, a figura élfica, envolta em seu manto negro, que lhe dava um aspecto nebuloso, sombrio e misterioso, puxou duas espadas élficas de sua cintura, as quais possuíam forte brilho argênteo, e com elas, saltou por sobre a mulher, com um salto mortal, se precipitando contra a criatura, com golpes velozes, deferidos em meio a saltos e pontapés. Dessa forma, a mulher saiu correndo, adentrou em sua casa, no fim da ladeira, trancou a porta e conseguiu se salvar.

Enquanto isso, na rua, os dois guerreiros lutavam com fúria, até que surgiu alguns guardas correndo, com cães grandes e ferozes nas coleiras, molossos gigantescos e ferozes, o que fez o elfo saltar novamente para o telhado e fez a criatura com quem ele lutava se dissolver em uma espécie
de fumaça negra e densa, desaparecendo na escuridão, deixando os homens temerosos com aquilo. Mas como a chuva estava muito forte, e não se podia ver muito em meio a escuridão e a neblina, os guardas desistiram de procurar e voltaram para suas guaritas.

Assim, a figura élfica ficou olhando os guardas sumindo, enquanto estava escondido em baixo da beira de um telhado, camuflado pela escuridão, que se misturava a cor de seu manto élfico negro. E, logo, ele viu a figura negra de seu inimigo se materializando em cima de um telhado próximo, algo parecido com uma sombra, uma fumaça solidificada e densa, sem rosto ou corpo definido e, portando uma espada do mesmo material.

Vendo aquilo, o elfo, com um movimento extremamente rápido, saltou para o telhado, correndo na direção do seu inimigo, que soltou um grunhido estridente ao vê-lo e, seus olhos se tornaram vermelhos como o fogo, com o centro em um azul mesquinho, representando o mal. E a criatura então gritou:

- Ogof Rodisiuqni!

E com essas palavras uma bola de fogo surgiu entre as mãos da criatura, e ela a lançou contra o elfo, que, por sua vez, falou rapidamente:
- Edadlaugi e mif ad oasserpo!

E essas palavras fizeram sair das suas mãos uma bola de energia de cor argêntea, que foi de encontro com o fogo amaldiçoado que a criatura lhe lançou, e com o choque, as duas se consumiram e desapareceram no ar. Assim, ao ver isso, o algoz urrou e disse ao elfo com uma voz rouca e deformada:

- Vós não sois apenas mais um desses caçadores tolos, não é? Não me encontrou por acaso, e sabes bem quem sou e o que quero, não é?

- Esteja ciente que sim, Monsenhor! - respondeu o elfo, em tom ambivalente.

Ao ouvir o elfo lhe chamar por Monsenhor, a criatura urrou com violência e se desintegrou no ar, antes que seu inimigo conseguisse chegar até ele e atingi-lo. Com isso, o elfo começou a correr e saltar sobre os telhados, e buscou se esconder, até que seu inimigo reaparecesse, para que ele então pudesse voltar a caçá-lo, de forma que, após se camuflar, ele teve de esperar por algumas horas, até que o algoz ressurgisse.

E, aquele, tal como dissera a criatura das trevas, não era um elfo ou um caçador de criaturas das trevas comum. Tratava-se do elfo Elcon, o antigo Marquês do Vale dos Elfos, um ser muito antigo, sábio e um guerreiro excelente, a qual lhe fora dada a honra de treinar os herdeiros da linhagem do rei Ask, rei de todos os homens.

Enquanto esperava, Elcon pensava em uma forma de matar de vez aquela criatura terrível, que tentava se regenerar e voltar a sua forma original. Ele sabia que naquele momento a criatura devia estar se alimentando de animais pequenos, de ratos ou insetos, para regenerar suas forças, sobretudo, porque o algoz gastara muita energia ao desferir a bola de fogo em sua direção, e precisava se recuperar rápido, ou acabaria deixando de existir, evaporando no ar.

Aquela criatura era um dos quatro antigos Monsenhores, líderes dos antigos Magos das trevas. Os Monsenhores eram seres poderosos e nefastos, que através das piores feitiçarias, conseguiram a quase imortalidade, tal como elfos e vampiros possuíam naturalmente. E aquele era o antigo Monsenhor Oaoj Oluap Odnuges, conhecido por alguns como Monsenhor Cabeça Torta, morto na guerra em que as criaturas das trevas foram expulsas para as terras do sul. Entretanto, antes de morrer, ele fez um sortilégio que o permitiria, depois de morto, que a fumaça de seu cadáver, e que suas cinzas, após um século, voltassem à vida, e que ele se tornasse um espectro miasmático, que pudesse, por sua vez, ir se regenerando através da sucção da essência vital das criaturas, depois do sangue, e depois dos corpos, o que lhe permitiria, em ultima instância, voltar um dia, ao seu estado original.

O feitiço do Monsenhor exigia que ele, cada vez mais, se alimentasse das criaturas mais poderosas, para poder voltar ao seu estado original. Assim, ele começara a se alimentar somente de energia vital de pequenas criaturas, pois quando ressurgira, estava tão fraco que não seria capaz de atacar nem mesmo uma barata. E, depois de mais forte, começou a beber o sangue e comer a carne de pequenos animais, passando para maiores, até chegar a humanos, e finalmente elfos.

E foi assim que Elcon começou a seguir os rastros da criatura, quando um elfo foi atacado por uma criatura que tentou tomar o seu sangue, mas que não conseguiu, e fugiu, sumindo no ar, evaporando em uma fumaça negra. E sabendo disso, Elcon pesquisou a respeito, descobriu o feitiço e começou a seguir os rastros do algoz, e a caçá-lo, vendo que cada vez ele abatia mais homens, tentando ficar forte o suficiente para matar um elfo, o que o faria voltar ao seu estado original.

Enquanto meditava sobre a situação, Elcon começou a andar sorrateiramente pelas ruas, sem se deixar ser visto, e, logo, encontrou um rato morto ao chão, com a marca de uma mordida na barriga, e soube que estava no rastro da criatura. Assim ele continuou seguindo, sorrateiramente, e não demorou para que, em um beco, ele encontrasse a criatura, bebendo o sangue de um cão de rua.

Ao ver a criatura, Elcon precipitou-se sobre ele, com um salto em sua direção, e com as suas duas espadas na mão. Assim eles começaram a lutar, trocando golpes com suas lâminas, pois a criatura viu o seu atacante, e levantou sua lâmina e se defendeu, enfrentando o elfo e tentando matá-lo, já que estava agora mais forte, por ter ingerindo bastante sangue de animais.

A chuva caia com força, o frio era congelante, e os raios cortavam o ar com brutalidade, enquanto os dois guerreiros lutavam com ênfase, com golpes rápidos de espada, e Elcon, agora com o seu capuz caído, estava com o seu cabelo encharcado, assim como a sua roupa. Então, em determinado momento, o elfo acabou por ferir a criatura, arrancando-lhe o braço esquerdo, que caiu ao chão e derreteu na água, como cinza.

A criatura perdeu o braço e não pode recuperá-lo, e, pelo contato com a prata, ficou bastante enfraquecido. Além disso, Elcon ainda encravou a lâmina nas costas do algoz, fazendo a ponta dessa sair na frente, e, assim, para fugir, o espectro miasmático se dissolveu em fumaça e desapareceu no ar, sem deixar vestígios para ser seguido.

Como matar aquela criatura? Era isso que Elcon se perguntava ardentemente, com o coração aflito com aquela situação. Assim, ele se escondeu, sentou-se e começou a pensar na situação, buscando uma forma de matar de vez a criatura. E, após pensar muito, uma idéia lhe veio à cabeça e ele começou a preparar um plano para não deixar mais que a criatura fugisse dele, como já havia feito antes.

Ele começou então a preparar um feitiço complicado e intenso, e, após muito tempo, tudo estava pronto, mas ele não terminou o feitiço, por opção própria, deixando apenas uma palavra para que ele se conjurasse. Assim, ele preparou algumas flechas fazendo fendas no corpo das mesmas, para colocar sal molhado com água bendita, para ficar bem fixa na flecha. Além disso, ele preparou armadilhas em alguns lugares, com sal e com lâminas de prata.

Dessa forma, Elcon começou a ir atrás dos rastros do espectro miasmáticos e, percebeu que a criatura rondava uma das guaritas das muralhas, pretendendo atacar os guardas que ali se encontravam, e que, embora fossem guerreiros, não estavam preparados para enfrentar uma criatura tão maléfica e poderosa. Assim, o elfo ficou na espreita e viu que
um dos guardas, no muro, que estava do lado de fora, fazendo sua ronda rotineira, foi surpreendido por uma sombra negra, que surgiu nas costas do homem e lhe encravou a sua espada negra na coluna, fazendo essa sair no peito, cheia de sangue.

O homem, infeliz, urrou de dor, e foi agarrado pela cabeça e teve o sangue usurpado de seu corpo por uma mordida no pescoço, por onde a criatura lhe sugou todo o sangue em segundos, se fortalecendo em demasia. No entanto, Elcon puxou o seu arco e atingiu o algoz com uma seta no centro do peito, sendo ela uma daquelas preparadas com sal e água bendita, e, em seguida o elfo atingiu a criatura com mais outras duas dessas setas.

A criatura urrou de dor, devido a todo o sal que lhe penetrou o corpo, e Elcon, saltou em sua direção, em alta velocidade, puxando da cintura suas duas espadas élficas, se precipitando com elas sobre o algoz, que tentou fugir, se tornando fumaça e desaparecendo no ar. Porém isso não surtiu efeito, e o espectro miasmático reapareceu em seguida, quase no mesmo lugar, sem entender o que lhe estava acontecendo.

O fato é que o sal das flechas penetrou no corpo do espectro, o enfraquecendo e tirando a sua capacidade de se dissolver no ar por algum tempo, assim, ele não podia mais escapar por aquele método, e precisaria enfrentar seu inimigo. Dessa forma, os dois começaram a lutar, e o elfo, com toda a sua perícia e velocidade, ditava o ritmo do combate, enquanto o outro se defendia com dificuldades, e recuava, tentando escapar.

Logo, Elcon, com os golpes de suas duas espadas, e com suas esquivas velozes, levou seu inimigo para perto de uma das guaritas dos guardas da muralha, e, ali perto ele parou de atacar, olhou fixo nos olhos da criatura, e disse na língua dos Elfos:

- Mif sod Socilotac!

Era o fim do feitiço que ele preparara, e, com isso, a chuva que caia com força, transformou-se toda em água bendita, caindo sobre o espectro
miasmático e o fazendo soltar fumaça por todo o corpo, o queimando como ácido, e o enfraquecendo em demasia. Por isso, ele precisava se proteger, e o lugar mais perto era a guarita dos guardas, onde ele adentrou rosnando e gritando desesperadamente.

Com isso, Elcon fez uma grossa linha de sal na porta, e entrou atrás da criatura. Todo o lugar já havia sido brevemente cercado por sal, que estava protegido da água da chuva por um beiral. Assim, a criatura estava presa ali naquele local, tendo caído na armadilha que o elfo lhe preparara.

Lá dentro, cinco guardas empunharam suas armas na direção do espectro, o cercando e exigindo que ele se rendesse, enquanto ele rosnava de forma ameaçadora. Os cães ladravam, hora em tom de alarme, hora em tom de choro, e Elcon, com suas vestes negras, também adentrou o recinto, assustando ainda mais os homens, que pensavam se tratar de outra criatura.
Nesse momento, Elcon retirou o seu capuz, se revelando, mostrando aos homens o seu rosto élfico. Com isso, ele virou-se para os mesmos e disse:

- Saudações, meus bons senhores, eu venho em paz, e para ajudá-los. Eu sou um elfo, e estou atrás dessa criatura das trevas que aqui adentrou. Trata-se de um monstro de extrema periculosidade. Ajudem-me a matá-lo, pois ele já matou um de vossos companheiros, e matará a todos aqui se nós não o determos.

- Há muito não vemos ou ouvimos falar em elfos por essas paragens, mas o povo élfico é sábio e imortal, grandioso e cheio de luz, e aqui sempre bem vindo. E se veio a nossa terra para caçar uma criatura que nos ameaça a todos, prestando-nos tal obséquio, saiba que o ajudaremos. Estamos ao vosso dispor. - disse o líder dos guardas, com uma referência.

Assim a criatura se via cercada, e logo, o elfo se precipitou sobre ela, e os dois começaram a lutar, e depois de golpes velozes, Elcon encravou uma das lâminas no peito da criatura, depois, decepou-lhe o mesmo braço de antes, a qual o algoz havia recomposto depois de beber bastante sangue.

Em seguida, um dos guardas alvejou o espectro, com sua lança, e um outro, encheu um balde de água bendita, da chuva, e jogou sobre o mesmo, o fazendo cair se debatendo.

Neste momento, Elcon aproveitou-se e lhe decepou a cabeça com um só golpe de sua lâmina de prata, de forma que todo o corpo da criatura caiu ao chão, se quebrando como se fosse uma estátua de poeira. E, com isso, Elcon rodeou o pó com sal, e depois salgou tudo, jogou óleo inflamável, alho e água bendita, e recitou as seguintes palavras na língua dos elfos:

- Mif od Omsinaitsirc!

E dito isso ele jogou fogo no lugar, e as cinzas se inflamaram e soltara uma fumaça miasmática, depois de uma explosão azulada, que fez todos os resíduos evaporarem.

- Senhores, eu vos agradeço pela ajuda. Essa criatura era por demais perigosa, e agora está morta e acabada. Um grande bem foi feito aqui hoje, e os Deuses vos recompensarão por isso. Tudo o que ocorreu aqui hoje não deverá ser comentado com ninguém, pois se a notícia se espalhar, essa Vila poderá sofrer represálias das criaturas das trevas. Eu permanecerei aqui, escondido, por algumas semanas, para garantir a segurança do local, e depois irei embora. Que os deuses vos protejam, meus bons amigos.

- Senhor elfo, nós é que vos agradecemos pelo que fizeste por nós. Não falaremos nada, e, se precisar de nossa ajuda, conte conosco. – respondeu o líder dos guardas.

Assim, Elcon recolocou o seu capuz e saiu correndo em meio à chuva, pulando para um telhado e para o meio da escuridão daquela noite chuvosa, onde desapareceu. E, com a maldita criatura morta, nenhum outro homem daquela Vila o viu novamente, embora ele tenha vigiado o lugar por algumas semanas, antes de ir embora de vez, ficando sempre camuflado nos lugares mais altos, sombrios e inesperados.

Átila Siqueira.

Conto do Universo da Saga Vale dos Elfos.

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Poeta e escritor: BH, MG. “Ao nascer, o homem é suave e flexível, Na sua morte é duro e rígido. Plantas verdes são tenras e úmidas; Na sua morte, são murchas e secas. Um arco rígido não vence o combate. Uma arvore que não se curva à força da tempestade, quebra. O duro e o rígido tombarão. O suave e o flexível sobreviverão.” DAO DE FING VERSO 76